quarta-feira, 13 de julho de 2011

Fez ninho, criou asas e voou.

Ainda lembro com total nitidez do timbre da tua voz.

Seja gritando sarcasticamente o meu nome, e enfatizando o sobrenome nos seus momentos forçados de fúria comigo, seja na voz de bichinha que você adorava fazer pra me tirar quando eu gamava num carioca da gema, ou na tua voz de bebê carente, doido por um mimo. Ah.. aquela sua voz de bebê! Voz essa que nos proporcionou a impagável felicidade de rir horas e horas ouvindo um cara cheio de gírias como você,  transformado em um neném, o que não podia resultar em nada menos do que um apelido, ou melhor, quase que um codinome.

Risos. Começarei por eles, sempre foi a sua preferência.

Se não desloquei a mandíbula contigo, não desloco mais. Era manhã, tarde, noite e madrugada. Vinte e quatro horas por dia, trinta dias no mês, e de um a dois meses em um ano, assim. Rindo de chorar e chorando de ri.
Lembro como se fosse hoje que, com aquele seu jeitinho de me ludibriar, conseguia me envolver propositalmente nas maiores e mais divertidas enrascadas. Sem contar que por isso, noventa e oito por cento da população do Rio de Janeiro junto a você, passou a me chamar na maior naturalidade de neguinha.

As nossas conversas entre olhares que burlavam a lei do silêncio quando nos perdíamos e caíamos na gargalhada. E os nossos passeios, saídas e viagens? Aquele teu sorriso gostoso, que com a velocidade do carro, quando o vento batia brincava com ele. Os lugares que conhecemos e nos encantamos juntos, e que são a sua cara, fez com que eu me apaixonasse mais ainda por eles.
E como esquecer o seu ciúme? Aquela carinha de bebê com raiva que eu me divertia provocando. Seja dançando, paquerando, dando atenção pra outras pessoas ou até mesmo não passando da sua imaginação fértil. Assim, instantaneamente você fazia cara de poucos amigos, que não passava enquanto eu não te agarrasse.
Por falar em abraços, impossível não fechar os olhos e ainda sentir o calor e a intensidade dos mesmos que, independente da freqüência com que nos víamos, não deixava esvair o ar de saudade e um bem, mais que bem-querer. Não podia faltar também a brutalidade dos seus empurrões, puxadas, as vezes que me derrubava, apertava e batia. E eu sempre precisava te lembrar, em alto e bom som, que eu sou uma mulher, porque em minutos você se esquecia desse pequeno detalhe.

Foi você que me ensinou a apreciar qualquer tipo de arte, a entender o porquê de  preservar a natureza, a amar os animais, e me deliciar com Tom, Roberto, Elis e Vinícius de Moraes. Foi através da tua sensibilidade que eu entendi que o sol, o mar, a lua e as estrelas se comunicam o tempo todo com a gente, muitas vezes melhor do que muitas pessoas, basta darmos a devida atenção a eles.
Foi com você que eu dei a melhor gargalhada, aprendi os palavrões mais chulos, tive a conversa mais difícil, o carinho mais necessário, as aventuras mais loucas e o choro mais sofrido.

Foi você que me fez entender que a alegria de viver não pode ser interrompida pelos obstáculos que a vida coloca no nosso caminho, e que devemos revertê-los em forma de motivação para novas conquistas e sonhos, como tantas vezes você fez.
Com você compreendi que não é necessário o muito para ser feliz, e que a felicidade pode ser encontrada nas coisas mais simples possíveis. Seja em conhecer pessoas novas, mantendo as amizades sólidas, dar aquele chamego na família, sair um belo dia na rua e fazer tudo aquilo que te der na cabeça. Rir do tiozinho que tropeçou, da moça elegante que levou um jato de água do moleque que mal tirou a carteira, xingar o motorista que freou em cima, gritar o nome do seu time como se fosse a última palavra a ser pronunciada, ou ouvir um ‘’Deus lhe pague’’ sincero da velhinha que você ajudou a descer a calçada.

Mas também foi por você que eu tive que aprender que quando estamos fracos, é então que somos fortes. Que a vida não vale de nada se a gente não plantar e cultivar pra colher o amor, por menor que seja o nosso tempo nela. No meu vocabulário você é o sinônimo de amizade, têm o cheiro da saudade sentida e a nostalgia melhor vivida. Nos trabalhinhos de Escola sobre Amigos, é o seu nome que com lágrimas nos olhos e sorriso cantinho de boca que os meus filhos vão escutar quando vêem nossas fotos e perguntarem quem é você. E é a você que eu agradeço por me ensinar na prática, da forma mais valiosa possível, o verdadeiro significado da palavra TUDO. Por ter me deixado fazer parte do seu tudo, e por ser o meu tudo.  


Não há tempo para um até logo, tchau muito menos Adeus.
Apenas fique e continue me ajudando a passar adiante a lição de vida que me deu. Quero sentir a tua presença até que eu me junte a ti.

Piu, Pitiu, Partiu.

Mais que ontem, menos que amanhã.




Esse texto foi feito em homenagem a uma amizade incrível, entre duas pessoas muito queridas. E foi através do afeto, carinho e sinceridade contidos nas histórias relatadas, que com um pouco de sensibilidade e um leve toque de nostalgia daquilo que não vivi, e muito admirei, que pude escrever esse texto.
Já dizia O Pequeno Príncipe: ‘’O essencial é invisível aos olhos’’.





quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meu Zen, meu bem ou meu mal?

Preto ou vermelho? Doce ou salgado? Ficar, ou namorar logo de uma vez? Meia calça ou legging? Troco ou fico com o mesmo? Ligo ou não ligo? Abandono ou procuro? Aceito ou me conformo? Permito-me ou é melhor manter-me reservada?

Escolhas.

Difíceis, por vezes banais, algumas que são tomadas sem sequer notarmos, outras que já exigem um pouco mais de tempo, contudo, indiscutivelmente, são essenciais.

Você já parou para pensar em quantas escolhas tem que fazer durante um dia? Decidir em segundos, e arcar com as conseqüências no minuto seguinte? Ok! Tudo bem! Essas, geralmente, não são tão sérias assim, (há controvérsias), por exemplo, se o Vídeo Show parar você na rua, e perguntar se gostaria de se transformar em um determinado artista, e na gravação, que seria durante o seu expediente de trabalho, o seu Chefe te ver na TV Globo, é, isso pode te gerar problemas. Mas, são escolhas não é mesmo?

Por outro lado, existem as escolhas que mal notamos quando estamos na posição de tomá-las, ou que julgamos não merecer tanta importância. Como os sabores de um suco, afinal, já temos as nossas preferências. A cor de uma roupa, que basta alguém dar aquele empurrãozinho que já decidimos. Escolher a noitada da vez, a casa de qual amigo será a reunião, se é melhor cobrar vinte ou trinta reais na entrada da Festa Junina. Se eu vou com algo mais confortável, ou opto por sofrer elegantemente, se espero o almoço demorado dos domingos ou preparo um macarrão instantâneo. Mas não deixam de ser: Escolhas!  


Existem também as denominadas ‘’complicadas’’. Aquelas que quanto mais pensamos, mais nos encontramos perdidos ou desprotegidos, sem coragem e ousadia para decidir. Por mais simples que pareçam aos olhos de terceiros, só nós sabemos o resultado que determinada decisão pode gerar no futuro.  As que exigem a ativação do nosso lado mais racional, até nos deixa de certa forma coagidos, mas com um pouco de esforço, conseguimos fazer a melhor opção (ou mais sensata para o momento), e seguimos em frente. Seja na escolha de qual curso prestar no vestibular, continuar no emprego atual ou arriscar uma nova oportunidade, a tão sonhada compra de um imóvel. Ligar ou não para o ‘’paquera’’, e ser sincera quanto aos seus sentimentos, desistir ou persistir em histórias que o destino já finalizou ou deu uma ‘’pausa’’. Escolhas, não passam de escolhas!

Agora, aquelas que afetam bruscamente um lado, cujo, diversas vezes nos enganamos acreditando que temos total controle, mas no fundo sabemos que vai além de qualquer racionalidade, viabilidade ou bom senso, essas sim são decisões e escolhas verdadeiramente difíceis.


A questão é: Escolho a opção que exige muito esforço, foco, dedicação e renúncia hoje, independente se vou abrir mão de amores, amigos e o que me faz bem, para que amanhã eu colha bons frutos, (correndo o risco de colhê-los sozinho ou relativamente longe de quem você abdicou, e com uma torturante nostalgia do que não foi vivido e aproveitado na época certa). Ou deixo um pouco de lado a ciência exata que a vida não é, e priorizo a paz de espírito, bem-estar, e felicidade de alma, que no final das opções, escolhas e resultados, é o que todos procuram, (ainda que de forma errônea)?

É aí que as mãos começam a suar, o receio surge, o medo insiste em intimidar, e as opiniões e conselhos dos outros, só alimentam a confusão dos nossos pensamentos. Não dá mais para fechar os olhos e cantar: “Mamãe mandou eu escolher esse daqui, mas como eu sou muito teimosa, escolho esse da-qui!”, e tudo se resolver. Seria muito bom, mas infelizmente, as decisões que um adulto, que vive em sociedade, e recebe aquilo que cultiva, não podem ser tomadas como uma brincadeira de Ciranda.  

Não sejamos hipócritas! Sem dúvidas o dinheiro é importante, inclusive muitos momentos felizes são proporcionados graças a ele, ter status e sucesso é bacana, realizar-se naquilo que almeja, muito mais, e como dizem, ‘’para cada escolha há uma renúncia’’. Entretanto, muitas vezes a falta de credulidade no amor, ousadia para arriscar e coragem para optar por aquilo que a sua racionalidade não prevê o resultado, te impede simplesmente de cogitar a hipótese de tentar conciliar determinadas escolhas.

Caso não exista essa possibilidade, por mais difícil que seja, procure encarar da seguinte forma: Hoje X Amanhã. Não como uma ‘’competição’’, e sim aquilo que você prioriza como felicidade e que te complete como ser humano, que indiscutivelmente vai refletir no seu exterior, e naquilo que você vai poder passar de positivo pras pessoas que ainda vão cruzar o seu caminho. E é então que recomeça aquela famosa ‘’Cadeia Alimentar da Alma’’: Escolhas bem tomadas – Bem-estar – Paz – Reflexo no, e para com o Próximo – Retorno em dobro do que foi cultivado.   


Sim ou não. Isso ou aquilo. Este ou aquele. Aqui ou ali.


A vida é feita de escolhas. Elas podem maquiar o encanto do passado, comprometer o presente, e tirar o futuro dos trilhos que o destino reservou. Cuidado com as suas!